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Hipertensão arterial: o inimigo silencioso que dá para vencer

A pressão alta quase nunca dói, mas é uma das principais causas de infarto, AVC, insuficiência cardíaca e doença renal. A boa notícia? Tratar e controlar a hipertensão salva vidas — com medidas simples no dia a dia e, quando necessário, com medicamentos seguros e eficazes.

O que é hipertensão — e como ela é diagnosticada hoje

  • Definições usadas na prática: existem divergências entre os valores de corte para o diagnóstico entre as diretrizes americana, europeia e brasileira. Todas, porém, já consideram atenção a partir de 120/80 mmHg no consultório, recomendando em alguns casos confirmar com medidas fora do consultório (MAPA ou residencial).
  • Por que medir em casa importa: aferições em casa ou em MAPA ajudam a identificar “hipertensão do avental branco” e “hipertensão mascarada”, melhorando a precisão do tratamento.

Por que controlar a pressão muda o destino do coração

  • Em uma colaboração com mais de 600 mil participantes, cada redução de 5 mmHg na pressão sistólica reduziu o risco de eventos cardiovasculares em ~10%, independentemente da presença de doença cardíaca.
  • No estudo SPRINT, tratar para meta intensiva (sistólica <120 mmHg, com técnica padronizada) reduziu mortes e eventos cardiovasculares em adultos de alto risco sem diabetes.

O que a pressão alta faz com o corpo

  • Coração: engrossa o músculo (hipertrofia), favorece arritmias e insuficiência cardíaca.
  • Cérebro: aumenta risco de AVC e comprometimento cognitivo.
  • Rins: danifica os filtros renais e acelera doença renal crônica; há diretriz sugerindo alvo <120 mmHg em quem tem DRC.
  • Olhos e artérias: pode causar retinopatia, aneurismas e doença arterial periférica.

Tratamentos: classes de remédios

1) Diuréticos tiazídicos

  • Para que servem: anti-hipertensivos de base.
  • Evidências: no ALLHAT, clortalidona foi tão eficaz quanto amlodipina ou lisinopril; no HYVET (idosos >80 anos), indapamida ± perindopril reduziu mortalidade e AVC.
  • Efeitos colaterais: queda de sódio/potássio, câimbras, gota; monitorar exames.

2) IECA e BRA

  • Para que servem: baixam pressão, protegem rim (diabetes e DRC) e são base na IC.
  • Efeitos colaterais: IECA pode causar tosse e angioedema; ambos podem elevar potássio e creatinina.
  • Preferir em: DRC com albuminúria, diabetes, pós-infarto, insuficiência cardíaca.

3) Bloqueadores de canal de cálcio

  • Para que servem: vasodilatam, funcionam bem em idosos e pessoas negras, ótimos para angina.
  • Efeitos colaterais: inchaço de pernas.

4) Betabloqueadores

  • Para que servem: essenciais em angina, pós-infarto e arritmias; não primeira escolha para hipertensão isolada.
  • Efeitos colaterais: fadiga, queda de libido, broncoespasmo em suscetíveis.

Hipertensão resistente?

Se a pressão segue elevada apesar de três drogas (incluindo um diurético), a espironolactona foi o melhor quarto fármaco no ensaio PATHWAY-2. Atenção a potássio alto e ginecomastia em alguns homens.

Estilo de vida que realmente baixa a pressão

  • Corte de sal: reduzir sal por 1 semana baixou a pressão sistólica em ~6–8 mmHg (JAMA 2023).
  • Dieta DASH: rica em frutas, verduras e laticínios desnatados; com pouco sal, reduz sistólica em ~7 a 11 mmHg.
  • Peso, exercício, sono e álcool: perder 5–10% do peso, praticar atividade física, dormir 7–8h e limitar álcool podem reduzir tanto quanto um remédio leve.

Uso indevido: riscos da automedicação

  • Diuréticos para “desinchar”: usados de forma estética, podem causar desidratação, distúrbios eletrolíticos, arritmias e lesão renal. Proibidos no esporte como agentes mascarantes.
  • Descongestionantes com pseudoefedrina: podem elevar pressão e frequência cardíaca, não são seguros em hipertensos.

Conclusão

Hipertensão é silenciosa, mas não é invencível. A combinação de hábitos saudáveis, medidas corretas de pressão e tratamento individualizado reduz drasticamente o risco de infarto, AVC e insuficiência cardíaca. Converse com seu cardiologista, acompanhe sua pressão em casa e ajuste o tratamento quando preciso. Coração em primeiro lugar — todos os dias.

Bibliografia

  1. 2017 ACC/AHA Guideline for the Prevention, Detection, Evaluation, and Management of High Blood Pressure in Adults – Circulation
  2. 2023 ESH Guidelines for the Management of Arterial Hypertension – Journal of Hypertension
  3. SPRINT Research Group – A Randomized Trial of Intensive versus Standard Blood-Pressure Control – NEJM
  4. Ettehad D, et al. Blood pressure lowering for prevention of cardiovascular disease – Lancet
  5. Baigent C, et al. Efficacy and safety of cholesterol-lowering treatment (ALLHAT) – JAMA
  6. Beckett NS, et al. HYVET Study – Treatment of Hypertension in Patients 80 Years of Age or Older – NEJM
  7. Williams B, et al. PATHWAY-2 Trial – Spironolactone in Resistant Hypertension – Lancet
  8. Gupta DK, et al. Effect of Dietary Sodium Reduction on Blood Pressure – JAMA
  9. Sacks FM, et al. DASH-Sodium Trial – NEJM
  10. KDIGO 2021 Clinical Practice Guideline for the Management of Blood Pressure in Chronic Kidney Disease – Kidney International

 

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