O Colesterol e o Coração: Uma Relação de Equilíbrio
O colesterol é uma molécula essencial para o corpo humano. Sem ele, não fabricaríamos hormônios, vitaminas ou membranas celulares. Mas quando está em excesso — especialmente na forma errada — ele se torna um dos maiores inimigos do coração. Infarto, AVC e insuficiência cardíaca têm no colesterol um dos principais protagonistas silenciosos.
O que é o colesterol e por que ele importa
- Colesterol total: soma de diferentes partículas que circulam no sangue.
- LDL (o “ruim”): quando em excesso, infiltra-se nas artérias, causando aterosclerose — o entupimento progressivo que leva ao infarto e AVC.
- HDL (o “bom”): ajuda a retirar colesterol das artérias e levá-lo de volta ao fígado.
- Triglicerídeos: gordura associada à resistência insulínica, pancreatite e risco cardiovascular.
O que sabemos pela ciência
- Estudos clássicos como o Framingham Heart Study mostraram que níveis elevados de LDL estão diretamente ligados a infartos e mortalidade cardiovascular.
- Metanálises com estatinas (medicamentos que reduzem LDL) envolvendo mais de 170 mil pacientes comprovaram: cada redução de 40 mg/dL no LDL diminui em cerca de 20% o risco de eventos cardiovasculares maiores.
- Estudos mais recentes com terapias como inibidores de PCSK9 e inclisiran reforçam a meta: quanto mais baixo o LDL, melhor — especialmente em quem já teve eventos cardíacos.
Principais riscos do colesterol alto
- Infarto agudo do miocárdio: placas de gordura rompem e formam coágulos que bloqueiam a artéria coronária.
- Acidente vascular cerebral (AVC): mecanismo semelhante nas artérias cerebrais.
- Doença arterial periférica: circulação prejudicada em pernas, podendo levar a dor e até amputação.
- Insuficiência cardíaca: resultado indireto de repetidos danos isquêmicos ao coração.
Outros impactos sistêmicos
- Rins: aterosclerose também reduz circulação renal, acelerando doença renal crônica.
- Carótidas e aorta: risco aumentado de aneurisma e acidentes isquêmicos transitórios.
- Fígado: o excesso de triglicerídeos pode estar associado à doença hepática gordurosa metabólica (MASH/esteatose hepática), que também se relaciona a risco cardiovascular.
Efeitos positivos do controle do colesterol
- Redução significativa de infartos recorrentes em quem já teve doença coronariana.
- Prevenção primária eficaz em pessoas de alto risco, como diabéticos e hipertensos.
- Proteção vascular sistêmica, diminuindo risco de AVC e doença arterial periférica.
O que fazer na prática
- Medir sempre: o colesterol não dá sintomas; só exames laboratoriais mostram o risco.
- Estilo de vida: alimentação balanceada, exercícios regulares e evitar tabaco.
- Tratamento medicamentoso: quando necessário, usar estatinas, ezetimiba ou novas terapias (PCSK9, inclisiran), sempre com orientação médica.
- Metas individualizadas: quanto mais alto o risco cardiovascular, mais baixo deve estar o LDL — abaixo de 50 mg/dL em quem já teve evento cardíaco, segundo diretrizes atuais.
Conclusão
O colesterol não é vilão nem herói: é necessário em equilíbrio. O problema surge quando níveis de LDL se mantêm elevados por anos, silenciosamente agredindo as artérias. Infarto e AVC não acontecem de repente; são construídos ao longo do tempo.
👉 Converse com seu cardiologista, faça seus exames regularmente e cuide da alimentação, da atividade física e, se indicado, da medicação. Cuidar do colesterol é cuidar da vida.
Bibliografia selecionada
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