Introdução
O coração e a mente estão mais conectados do que imaginávamos. Depressão, ansiedade, estresse crônico e até mesmo transtornos psiquiátricos graves não apenas afetam o bem-estar emocional, mas também aumentam o risco de infarto, arritmias e morte cardiovascular. Agora em 2025 foi publicado na ESC o Clinical Consensus Statement on Mental Health and Cardiovascular Disease que trouxe um alerta forte: ignorar a saúde mental é comprometer a saúde do coração.1
Como a saúde mental influencia o risco cardiovascular
- Estresse psicossocial: tão potente quanto fatores clássicos como tabagismo e hipertensão. Um grande estudo mostrou que pessoas sob estresse crônico têm risco 2,5 vezes maior de eventos cardiovasculares.4
- Depressão: duplica o risco de infarto e piora a recuperação após eventos cardíacos. Afeta também adesão ao tratamento e hábitos de vida.2, 7
- Ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): comuns após infarto, cirurgias cardíacas ou choque de desfibrilador, atingindo até 38% dos sobreviventes de parada cardíaca.5
- Transtornos mentais graves (esquizofrenia, transtorno bipolar): associados a risco cardiovascular precoce, sobretudo em jovens. Além da própria doença, o tratamento com antipsicóticos pode impactar metabolismo, peso e ritmo cardíaco.6
O impacto da doença cardiovascular na mente
A relação é bidirecional: ter uma doença cardíaca aumenta o risco de depressão, ansiedade e TEPT. Esses quadros, por sua vez, pioram prognóstico, adesão à medicação e qualidade de vida.2, 7
O conceito de Psycho-Cardio Team
A ESC defende a criação de equipes multidisciplinares chamadas Psycho-Cardio Teams, que integram cardiologistas, psiquiatras, psicólogos e médicos de família. A proposta segue os princípios ACTIVE:
- Acknowledge – reconhecer a relação íntima entre mente e coração.
- Check – rastrear sintomas de saúde mental nas consultas cardiológicas (e vice-versa).
- Tools – usar instrumentos validados para diagnóstico precoce.
- Implement – integrar cuidados de saúde mental na prática cardiológica.
- Venture & Evaluate – inovar e avaliar continuamente estratégias.
Manejo prático: o que muda na prática clínica
- Rastrear: aplicar perguntas rápidas de triagem para depressão, ansiedade e TEPT em pacientes cardíacos.1, 2
- Tratar de forma escalonada (stepped care): de psicoterapia breve a intervenções farmacológicas, conforme necessidade.1
- Equilibrar riscos e benefícios de psicotrópicos: alguns antidepressivos e antipsicóticos prolongam QT e podem induzir arritmias, exigindo ECG e monitorização.1
- Envolver cuidadores: familiares também enfrentam sobrecarga emocional e precisam de apoio estruturado.1
Pontos positivos do consenso
Conclusão
O coração não bate sozinho — ele responde ao que sentimos, pensamos e vivemos. Depressão, ansiedade e estresse crônico não são apenas “dores da alma”: são feridas que também atingem o músculo cardíaco. Integrar saúde mental na prevenção cardiovascular é uma das maiores revoluções da medicina moderna.
Se você tem histórico de doença cardíaca ou fatores de risco, converse com seu cardiologista sobre como anda sua saúde emocional. Cuidar da mente é também cuidar do coração.
Bibliografia
- 2025 ESC Clinical Consensus Statement on Mental Health and Cardiovascular Disease. Eur Heart J. 2025.
- Lichtman JH, et al. Depression and coronary heart disease: recommendations for screening, referral, and treatment. Circulation. 2014.
- Rozanski A, et al. Impact of psychological factors on the pathogenesis of cardiovascular disease. Circulation. 1999.
- Yusuf S, et al. Effect of psychosocial stress on risk of acute myocardial infarction. Lancet. 2004.
- Cohen BE, et al. PTSD and cardiovascular disease. JAMA. 2015.
- Correll CU, et al. Cardiometabolic risk in severe mental illness. JAMA Psychiatry. 2017.
- Penninx BW. Depression and cardiovascular disease: Epidemiological evidence. J Psychosom Res. 2017.
 
				